Matéria na Experience Magazine

por Claudia Capuzzo

No fim do ano passado produzi uma matéria para o B9 Talk (projeto de vídeos com conteúdo para o B9). Essa matéria se tornou vídeo (abaixo), assim como um texto no blog (leia aqui). Mas a verdade é que o principal objetivo era desenvolver uma matéria com conteúdo exclusivo (que não foi divulgado nem no B9, nem no B9 Talk) para a revista Experience Magazine.

Recebi ela no começo do ano aqui no escritório, e confesso que a satisfação de ter feito parte dessa edição foi enorme. Tenho essa sinergia com o impresso, o toque do papel: minha opinião é de que tudo o que está nele, fica mais bonito.

Aproveitarei também para compartilhar o texto publicado:

Num verdadeiro diálogo entre a exploração e a estética, a Oficina Tipográfica São Paulo é responsável por uma experiência singular, que excede qualquer entendimento literário. O espaço, formado por Marcos Mello, Cláudio Rocha e Cláudio Ferlauto (que hoje não faz mais parte), proporciona uma profunda analise criativa e inteligente, fazendo com que as letras (conhecidas também por tipos móveis) abandonem seu caráter literário e assumam um propósito de forma. E ao enxergarmos o contexto além de frases, palavras e caracteres, nossa leitura é convertida em percepção, fazendo com que o termo se torne gravura.

Esse retorno a tipografia clássica (arte e processo de criação e composição de textos cuidadosamente estruturados) oferece um cenário de investigação e garimpo, que ao longo das duas últimas décadas reuniu um acervo fantástico, composto por letras de chumbo, raridades de madeira e prodígios tecnologicos como a Heidelberd, Minerva e (uma das maiores revoluções na comunicação, a famosa) Lynotype – máquina alemã que funde em blocos de metal linhas compostas por uma espécie de máquina de escrever.

Isto, somado ao método não-ortodoxo de se pensar tipografia (que privilegia a criatividade a construir ou desorganizar idéias em fragmentos gráficos num sistema estrutural e ascendente as tecnologias atuais) faz da OTSP um lugar único no país. A idéia não é incitar o conflito entre a simplicidade do computador pessoal (que oferece a qualquer um a elaboração e formatação de textos ao clique do mouse), mas sim a percepção de que o raciocínio dos instrumentos atuais são baseados nos métodos antes empregados no passado: e devem caminhar juntos.

A composição manual de tipos móveis exige um pensamento profundo, que esteja correto no sentido de estrutura física, respeitando não só cada letra, mas principalmente o espaço ao redor delas. E talvez essa seja a maior beleza nisso tudo: a composição da forma tipográfica é tão importante quanto a composição do vazio entre os caracteres.

Essa conexão entre o velho e o novo dá vazão a linguagem e redefine a qualidade do visualmente correto: provando que não deve haver distanciamento entre os dois universos. Pois a habilidade com tipografia surge a partir do momento em que sabemos manusear, distinguir, compor, observar e buscar o estreitamento com o assunto.

A importância do que é belo está implícita na era do tipo móvel. E justamente por tudo isso fica claro que o mais importante não está em preservar equipamentos, mas sim o conhecimento.

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